Segunda mulher que mais viveu no Brasil

Filha de escravos e com uma fé incrível na religião apostólica, Ana Martinha da Silva possui uma lucidez invejável. Apesar de ouvir e enxergar pouco, está sempre sorrindo

27/06/2004
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Segunda mulher que mais viveu no Brasil
Nota de falecimento
No dia 27 de julho de 2004 morreu a mulher mais velha do Brasil, de falência múltipla dos órgãos, segundo o boletim médico.

De acordo com a equipe da Santa Casa de Cuiabá, Ana Martinha da Silva deu entrada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) às 17 horas do dia 22. Estava com arritmia (alteração do ritmo normal dos batimentos cardíacos) e com insuficiência respiratória aguda.

Em março deste ano, o governo doou uma casa de três quartos para Ana Martinha, que morava com a filha, e resolveu pagar uma pensão de R$ 1.400,00 para ela. A recordista completaria 124 anos, no dia 25 de agosto.

Reconhecimento
Luciano Cadari, auditor do RankBrasil - Livro dos Recordes Brasileiros, foi procurado pela jornalista Sueli Batista, para analisar a documentação da mulher que superaria o recorde de Mulher mais velha do Brasil, que pertencia à Maria Benedita, com 116 anos.

Ana Martinha da Silva, com 127 anos, mas sendo registrada quatro anos após o seu nascimento, foi reconhecida oficialmente com 123 anos e como a Mulher mais velha do país.

A recordista nasceu na Chapada dos Guimarães, adora contar histórias que presenciou, momentos importantes do país: da escravidão à abolição, da repressão à liberdade de imprensa, da submissão à expansão da mulher no mercado de trabalho. Ela traz na bagagem de experiência de vida preconceitos e muitas dificuldades.

Cozinheira até os 103 anos, em uma fazenda na região de Várzea Grande, além de ter ao longo de sua vida, lavado e passado roupas para muita gente da sociedade. Ana Martinha tem vontade de viver, o que é exemplo de motivação para qualquer pessoa.

Dos velhos tempos de Cuiabá, ela relembra com nitidez as igrejas de palha e os momentos difíceis da Revolução de 32. Viu os carros substituindo as carroças. Lembra-se também da tristeza que sentiu quando soube da morte do ex-presidente Getúlio Vargas, data a qual tem servido de referência para contar os anos da morte de seu marido. "Quando o Getúlio Vargas morreu, fazia muito, mas muito tempo mesmo que ele já tinha morrido".

Mãe de nove filhos, mas apenas três estão vivos, todos nasceram de parto normal, com os precários recursos da roça, de quando morava em Várzea Grande, em Cuiabá. Quase todos os filhos vieram encarrilhados, criados com muito sacrifício, pois seu marido faleceu quando todos ainda eram crianças.

Mora com uma filha e o genro, alguns de seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos foram embora sem deixar endereço. "Sinto saudade de meus filhos, tenho todos eles no coração", mencionou Ana.

Ela é tratada com muito carinho pela vizinha e amiga Marli de Paula Ramos, a qual é considerada um anjo da guarda.

Certificação
A entrega solene, do certificado para Ana, a ´vozinha´, como é carinhosamente chamada pelos vizinhos, foi feita no dia 22 de dezembro, às 9 horas, no Palácio Paiaguas, com a presença da primeira dama do estado, Terezinha Maggi.

No ato da homologação, a recordista também recebeu uma cadeira de rodas, pois tem dificuldade de locomoção. A jornalista e presidente da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais (BPW Cuiabá), Sueli Batista, fez a solicitação e foi atendida pela Secretaria do Estado de Trabalho, Emprego e Cidadania (SETEC).

"Tenho acompanhado Ana Martinha nos últimos dois anos, não só como espectadora, mas como dirigente de uma organização, que está cuidando para que ela tenha mais longevidade com ações efetivas, que têm contribuído para a sua saúde", conta Sueli.

Sueli destacou ainda que não é só de homenagem que uma pessoa nesta idade precisa. "Ela necessita de atenção, assistência, e nós somamos esforços para buscar esta certificação, para que ela seja não só um patrimônio de Mato Grosso, mas do Brasil", disse a presidente. Sueli acredita que isto poderá contribuir para que outras entidades e autoridades possam colaborar para lhe dar a assistência merecida.

Vale ressaltar que há mais de um ano a BPW Cuiabá conseguiu plano de saúde vitalício da Unimed e medicamentos permanentes, da Drogaria Três Américas, para Ana Martinha.

RankBrasil na mídia
O auditor do RankBrasil, Luciano Cadari, cedeu várias entrevistas a respeito dos recordes descobertos em Cuiabá, mas uma que causou grande repercussão em todas as mídias foi o da Ana Martinha.

Cadari foi para Cuiabá exclusivamente para homologar o recorde de Djalma, que construiu o Maior presépio pantaneiro do Brasil, mas acabou descobrindo também a Mulher mais velha do país.

Em uma entrevista à Rádio Cuiabá, Luciano mencionou a descoberta: "Com mais de 600 recordes em quatro anos, o que mais marcou foi o de Ana Martinha. É uma pessoa que está sempre sorrindo, adora receber visitas para contar sua história, todos os acontecimentos do Brasil, os quais tiveram grande influência em sua vida".

Redação: Aline F. Cardoso - 18/12/2003/Revisão: - jornalista Raquel Susin - 08/08/2007

Reconhecido pelo RankBrasil mediante rigor técnico e imparcial – única autoridade nacional de homologação de recordes desde 1999.”