A Maior biblioteca rural do país é de São José do Paiaiá, povoado de 500 habitantes localizado no município de Nova Soure, a 250 km de Salvador (BA). O espaço batizado como Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado possui 110 mil livros (até abril de 2014).
Destes, aproximadamente 6,2 mil são exemplares raros ou especiais e 5,3 mil de literatura infanto-juvenil. O acervo conta com mais de dois mil CDs, 1,6 mil DVDs, 133 fitas de vídeo, 15 mil periódicos, cinco mil gibis, além de quatro computadores com internet, dois à disposição dos visitantes.
A Biblioteca do Paiaiá, como é conhecida, recebe cerca de 30 pessoas por dia e o maior público é formado por crianças de até 14 anos. No local também são realizadas outras atividades como escolinha de futebol, vôlei, xadrez e ateliê de pintura.Implantada num povoado onde três a cada 10 moradores da região eram analfabetos, hoje o espaço vem modificando este cenário. Segundo professores da redondeza, os índices de reprovação caíram cerca de 20% com a instalação do ponto de leitura.
Além da biblioteca, agora também é mais fácil estudar. Atualmente, os alunos conseguem cursar o ensino fundamental um e dois (até o 9º ano) no vilarejo, quando terminam precisam se deslocar 12 km até Nova Soure para prosseguir com o curso. Aqueles que procuram o ensino superior podem optar por educação à distância, já que a faculdade particular mais próxima fica a 56 km ou a Universidade Federal da Bahia a 250 km.Foi na metrópole que Geraldo trabalhando como faxineiro durante o dia e porteiro à noite pôde começar a estudar e comprar livros. Depois trabalhando como operário em uma fábrica decidiu prestar vestibular para medicina. Não passou, mas entrou em Línguas Orientais na Universidade de São Paulo (USP). Como a aula de chinês era ministrada em inglês, ele não aprendeu nenhuma das línguas. Em 1967, transferiu-se de curso para História.
Fez mestrado em Desenvolvimento Agrícola e outro em Cultura Brasileira, também doutorado em Desenvolvimento Agrícola e Cultura Rural do Brasil. Morou em Recife (PE) e Brasília (DF). Casou e divorciou-se nove anos depois.Após a separação, ele vendeu o apartamento e teve dificuldade para acomodar sua coleção de 47 mil livros no novo imóvel que era menor. Durante uma conversa com o sobrinho José Arivaldo Moreira Prado, com 16 anos na ocasião, surgiu a ideia de instalar uma biblioteca no Paiaiá.
O jovem ficaria responsável por cuidar do acervo e coordenar as atividades, enquanto o tio disponibilizaria os livros e ministraria aulas aos visitantes. Arivaldo hoje aos 33 anos é formado em Letras e possui curso técnico de magistério. Recentemente ingressou na faculdade de Biblioteconomia em Aracaju (SE).Todo o trabalho feito na biblioteca é voluntário e ninguém recebe salário pela atividade no espaço mantido por doação. Arivaldo divide-se com José Francisco dos Santos para tocar o projeto, enquanto o tio dá aulas no Rio de Janeiro e vigia de longe, com olhar cuidadoso, a obra de que tem maior orgulho.
Segundo Geraldo, o título certificado pelo RankBrasil é uma confirmação. “Estou muito feliz e contente pois a professora Walnice Galvão da USP já havia dito e publicado em um artigo que a biblioteca comunitária era a maior do mundo em uma comunidade rural, mas também conquistamos o recorde nacional. É um diferencial para a comunidade e muitas pessoas que se preparam com nossos livros para o vestibular já estão formadas. É uma satisfação”.Para Geraldo, existe um grande propósito por trás do projeto. “Quem sai do Paiaiá para a cidade costuma ser trabalhador em funções mais humildes ou como lamentavelmente já aconteceu no passado e continua acontecendo nos dias atuais, entra na marginalidade social. Vamos criar um trabalho um pouco diferente, mais suave pra eles? Se saírem do sertão, que seja para trabalhar com o que escolheram, investindo em uma carreira para não ser de um jeito tão sofrido como é para o pessoal que vive aqui”.
A Biblioteca do Paiaiá formou mais de 100 professores com cursos voltados ao incentivo à cultura, cinema na sala de aula e uso de novas tecnologias. O local fica aberto de segunda a sábado, das 8 às 17 horas, mas Arivaldo garante que quem precisar de um livro no domingo pode bater que ele abre também.Redação: RankBrasil
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